O Voe de hoje nos traz a oportunidade de olharmos para o nosso corpo, como sendo um território de aprendizado, um lugar de poder. Nesse sentido, vamos olhar como o corpo guarda as marcas deixadas por nossas feridas emocionais. Em seguida, vamos ver como curar esses registros.
Inicialmente, refletiremos sobre Hawachi, que é uma palavra em aramaico protocananeu, que significa, sentir, sentimento e sensibilidade, Ha(minha, nossa), wachi(visceral, vísceras).
A Cabala Ancestral utiliza o aramaico protocananeu, tronco linguístico mais antigo do aramaico. Embora esse idioma seja pouco conhecido, é uma das bases dessa sabedoria milenar, que está no mundo antes ainda das religiões. Portanto, Cabala Ancestral não tem vínculo religioso, é um modo de viver e nos ensina que o corpo fala.
Como o corpo guarda as marcas deixadas por nossas feridas emocionais?
Diferente do que o senso comum possa entender, quando vê o corpo como algo separado do todo que nos compõe, sobretudo, depois que morremos, podemos dizer que o corpo é tudo, pois é no corpo que armazenamos as nossas memórias, nossas vivências e toda a nossa experiência. Quando queremos lembrar de algo ou lançar mão de alguma coisa, isso é sempre ancorado pelo corpo. A partir dessa ancoragem, desses registros, que criamos a possibilidade, não só de construirmos, mas de nos movimentarmos e nos relacionarmos com a natureza, com as pessoas, com os objetos e com mundo.
Então, podemos dizer que os sentimentos são impressões dos órgãos e vísceras, que se desdobram, em outros sentimentos e pensamentos. Logo, todo o nosso corpo pensa. O mais interessante é que atualmente a neurociência já fala disso, pois reconhece há algumas décadas que as memórias ficam nas vísceras, nos órgãos, nos músculos, na fáscia.
A fáscia é como se fosse a nossa pele interna, e para facilitar nosso entendimento, podemos compará-la a um plástico filme que reveste todo o nosso corpo e órgãos internamente.
É também a fáscia que permite os órgãos se mexerem e voltarem ao seu lugar dentro de nós, é nela que ficam registradas as nossas memórias, e ela também comunica.
Nosso corpo físico tem formas variadas, tanto internamente (ossos, órgãos e músculos), como externamente.
No entanto, para além da forma física, quando imprimimos uma memória no corpo também damos uma forma a essas vivências. Isso porque os nossos sentimentos e emoções também ganham uma forma, tanto as memórias doces, como as amargas.
O corpo físico e emocional
Muito embora não possamos ver a forma das vivências no espelho, essas descargas elétricas estão registradas no nosso corpo e vão sendo construídas a partir da nossa relação com o mundo.
A construção dessa relação, a forma que damos aos nossos sentimentos e as experiências vividas, vão determinando o nosso jeito de ser. Influenciando diretamente nos nossos hábitos, crenças e valores. A partir disso, vamos responder nossas demandas, tanto as que recebemos, como as que compartilhamos com o mundo. Determinando como vamos agir e reagir a tudo que nos chega.
Além do nosso corpo físico, que é chamado selim, aquilo que podemos ver refletido no espelho, temos também o corpo vital, que seria a nossa energia, que em aramaico chamamos de Nafsha, e o corpo emocional, que em aramaico chamamos de Ruk’há.
Embora não possamos ver no espelho a forma do nosso corpo vital, da nossa Nafsha e, do nosso copo emocional, o nosso Ruk’há, podemos senti-los.
Entretanto, é o outro que poderá nos sentir com mais clareza, percebendo se estamos irritados, se estamos calmos e tranquilos, se estamos entusiasmados ou depressivos. É através do outro que essas impressões são reconhecidas pelo mundo.
Assim, os corpos vital e emocional, vão sendo formados pelas nossas vivências e nossa relação com o mundo. Entretanto, só teremos uma clareza e consciência ampliada a respeito disso se buscarmos desenvolver um trabalho de autoconhecimento. Do contrário, ficaremos reféns de tudo que nos acontece, e das histórias que vamos contando a respeito das nossas vivências, pois cada um de nós reage de um jeito diferente com o que acontece na nossa vida.
O lugar do poder em nosso corpo
Duas ou mais pessoas, por exemplo, passam pelas mesmas experiências e reagem de jeitos distintos. Alguns recebem os desafios como aprendizado e alavanca para seguirem em frente. Já outros, que passam por desafios semelhantes, poderão entender esse acontecimento como sendo uma experiência de dor, uma grande decepção, um momento amargo e poderão ficar embotados, correndo o risco de não conseguirem seguir em frente em suas vidas, desenvolvendo as mais variadas doenças.
A partir desse exemplo, vamos avançar, olhando para o nosso corpo como um lugar de poder. Primeiramente, vamos refletir um pouco através das perguntas a seguir:
1) O que é poder para você?
2) Qual a imagem que vem à sua cabeça quando falamos de poder?
3) Qual a lembrança que vem à cabeça quando você escuta a palavra poder?
4) Como você se relaciona, e se sente com a ideia de poder? É confortável, ou desconfortável?
5) Que lugar ocupa essa ideia de poder dentro de você?
Muitas vezes pensamos em poder de uma forma negativa, relacionada ao autoritarismo ou a repressão. Assim, o poder termina ficando num lugar nada bacana.
Quando queremos mudar nossa visão de mundo, o jeito de nos relacionarmos, o poder será imprescindível. Neste caso, estamos falando do poder de escolha, do poder da mudança, do poder de sermos livre em qualquer circunstância.
Portanto, perceber que lugar o poder tem no nosso corpo, como nos relacionamos com a ideia de poder, e mesmo qual a história que contamos a respeito disso é indispensável. Essa relação poderá ter raízes profundas, ligadas muitas vezes a relação com um avô autoritário, um pai muito rígido e regrado, por exemplo.
O corpo como um mapa
O exercício, de perceber que lugar o poder ocupa dentro de nós, facilitará entendermos não só como o corpo armazena as nossas emoções, e sentimentos, e também as consequências que essas vivências e memórias traduzem. Tudo isso determina como vamos caminhar e responder ao mundo.
A partir disso, vamos olhar para o nosso corpo, como se fosse um mapa, nos possibilitando identificar que tipo de sentimentos, e experiências estão determinando nosso jeito de agir, de receber e de compartilhar.
Em seguida, traremos mais um exemplo de como podemos olhar para nossas vivências, e perceber como influenciam no nosso jeito de agir e reagir na nossa vida.
Por exemplo, alguém que apanhou muito do pai na infância, poderá a partir dessa vivência escolher caminhar diferente na sua vida: não batendo nos filhos, educando a partir do diálogo, da compreensão e do carinho. Podendo inclusive ser grato por esse pai violento, que possibilitou a esse alguém, olhar para essa experiência amarga e perceber essa maneira não saudável de educar. Agindo diferente na educação de seus filhos. Assim, construindo um clima amistoso na relação com sua família.
É importante percebermos esse lugar de poder do nosso corpo, de registrar essas vivências, construindo uma autocrítica. Não no sentido de criticar, mas de criar outros critérios. Ou seja, outras maneiras de proceder com situações semelhantes que venham a viver na sua vida adulta.
Quando temos esse olhar sensível e desenvolvemos o autoconhecimento, podemos fazer mudanças em todas as áreas da nossa vida. Trazendo para perto todas as vivências que tivemos, transformando o mundo que nos cerca, e indo além.
Nesse sentido, sabendo que tudo fica registrado no nosso corpo, podemos dizer que o corpo é a nossa morada, e quando olhamos para isso, temos a possibilidade de curarmos as nossas dores, e de transformar o nosso caminhar.
Por isso, buscamos ajuda nesse processo de autoconhecimento e de cura. Contudo, sozinhos teremos dificuldades de ampliar nossa visão.
Exercício para se aproximar do nosso corpo
O primeiro passo para se aproximar do nosso corpo é darmos uma atenção especial a nossa respiração. Esse passo é essencial para nossa cura.
A respiração tem um papel fundamental, pois não vivemos sem respirar. Além disso, a respiração tem a capacidade de promover uma mudança gigantesca no estado do nosso corpo, que muitas vezes desconhecemos, por isso não usamos toda a capacidade do nosso pulmão.
Para o nosso corpo funcionar plenamente precisaríamos usar de 60% a 80% dos nossos pulmões. O que não acontece, porque respiramos curto, impedindo de termos mais energia e de diminuir o nosso diálogo interno. Essa falação que não para, consome muito o fluxo de energia.
Dito isso, o voe de hoje convida você a dar alguns passos através de um exercício de respiração.
Procure fazer o exército num lugar confortável, se possível esteja descalço e mantenha a coluna ereta. Vamos lá!
2º) Respire lenta e profundamente.
3º) Busque se conectar com a sua respiração.
4º) Coloque o foco no ar que entra e no ar que sai.
5º) Perceba como está o ar dentro dos seus pulmões.
6º) Perceba como está sua respiração. Está lenta ou acelerada?
A partir desse momento, dessa observação procure aumentar a capacidade dos seus pulmões, fazendo uma respiração mais completa, percebendo agora como está o seu corpo e as memórias dentro dele.
Finalize o exercício trazendo uma imagem de equilíbrio e de força. Traga uma lembrança confortável, agradável, deixando essa lembrança saudável, essa imagem de força e equilíbrio se fixar no seu corpo.
A seu tempo vá se despedindo dessa imagem, dessa lembrança confortável. Isso vai levar você para um lugar saudável, possibilitando o fluxo da vida transitar dentro de você. Você poderá repetir esse exercício quantas vezes achar necessário.